Cometa 3I/ATLAS exibe cabeleira verde de CO₂ e desafia teorias de formação planetária
out, 5 2025
O cometa 3I/ATLAS foi identificado em 1º de julho de 2025 como o terceiro visitante interestelar a cruzar o Sistema Solar, e já está provocando um rebuliço entre astrônomos porque possui uma "cabeleira" verde de gás dióxido de carbono que se estende por quase 350 mil quilômetros.
Descoberto pela missão SPHEREx da NASA, o objeto tem núcleo de cerca de 5,6 km de diâmetro, rotação de 16,79 h e uma coma de CO₂ incomparável aos cometas típicos do nosso sistema.
O astrônomo Carey Lisse, astrônomo da Universidade Johns Hopkins, explicou ao Space.com que a intensidade da camada verde é “surpreendente”, enquanto o presidente da Associação Paraibana de Astronomia (Brasil), Marcelo Zurita, destacou a alta concentração de CO₂ como algo fora do padrão.
Contexto histórico: os visitantes interestelares
Desde a descoberta de ʻOumuamua em 2017, o número de corpos vindos de fora do Sol tem sido diminuto. O 2I/Borisov, detectado em 2019, já mostrava traços de gelo comum, mas o 3I/ATLAS traz um perfil químico que lembra mais objetos do cinturão de Kuiper ou até centauros, como ressaltou a equipe de pesquisa.
Na prática, a presença de CO₂ em tal quantidade indica que o núcleo preservou gelo volátil por bilhões de anos, sugerindo uma região de origem fria e rica em compostos orgânicos – possivelmente uma “bolsa” de formação planetária em outra parte da galáxia.
Detalhes das observações: a "cabeleira" verde
As imagens de setembro de 2025 mostraram um halo verde ao redor do cometa, algo geralmente associado ao dicarbono (C₂). No entanto, os espectros obtidos pela SPHEREx revelaram que o C₂ era escasso, apontando para outra molécula em fluorescência – possivelmente CO₂ excitado pela radiação solar.
Além disso, os cientistas detectaram um "ramo de polarização negativa" extremamente profundo e estreito, uma assinatura óptica que nunca havia sido vista em cometas. Essa peculiaridade indica que as partículas de poeira têm formatos e composições diferentes, lembrando os grãos de gelo dos objetos transnetunianos.
- Coma de CO₂: ~350 mil km
- Núcleo: 5,6 km
- Rotação: 16,79 h
- Cor verde: provável fluorescência de CO₂
- Polarização negativa: inédita para cometas
Reações da comunidade científica
O presidente da Associação Paraibana de Astronomia, Marcelo Zurita, afirmou que “sua composição é diferente da maioria dos cometas do Sistema Solar apenas no que diz respeito à concentração de CO₂”.
Já as pesquisadoras Susanne Pfalzner e Michele Bannister, ambas afiliadas ao Instituto de Astrofísica de Copenhagen, levantaram a hipótese de que o 3I/ATLAS poderia ser uma “semente formadora de planetas”, proporcionando um núcleo sólido capaz de acelerar a acreção de gás em discos protoplanetários.
Essa teoria gerou debates acalorados nos simpósios de astroquímica e dinâmica planetária, com alguns pesquisadores pedindo cautela até que novas medições de massa e densidade estejam disponíveis.
Implicações para a formação de planetas
Se o cometa realmente representa um núcleo pré‑formado, ele poderia solucionar um dos maiores enigmas da astronomia: como planetas gigantes, como Júpiter e Saturno, alcançaram massas críticas antes da dispersão do disco de gás. Um núcleo sólido externo poderia servir como “âncora” gravitacional, atraindo e retendo material gasoso mais rapidamente.
Além disso, a origem do 3I/ATLAS – possivelmente uma região da galáxia com estrelas semelhantes ao Sol – abre caminho para comparações entre processos de formação planetária locais e interestelares. Isso pode indicar que a mesma arquitetura química que deu origem ao nosso próprio Sistema Solar pode estar espalhada por toda a Via Láctea.
Próximos passos e observações futuras
O cometa permanecerá visível ao longo de 2026, permitindo que telescópios terrestres e espaciais, como o James Webb Space Telescope, realizem espectroscopia de alta resolução. A comunidade espera confirmar a presença de outros voláteis, medir a massa exata e mapear a distribuição de partículas de poeira.
Em paralelo, a Conferência Internacional de Astronomia InterstellarBerlim já incluiu um painel exclusivo sobre o 3I/ATLAS, reunindo especialistas de Estados Unidos, Brasil e da Europa.
Até lá, os astrônomos continuam coletando dados de observatórios amadores na América do Sul, onde a visibilidade do cometa é favorável durante a primavera austral.
Background: como surgiram os visitantes interestelares?
Objetos como 3I/ATLAS são ejetados de seus sistemas natais após interações gravitacionais com planetas gigantes ou estrelas próximas. Estudos recentes sugerem que até 10% das estrelas podem expulsar pequenos corpos a cada 100 milhões de anos, mas poucos desses cruzam a órbita da Terra.
A primeira detecção, ʻOumuamua, mostrou traços de metal e uma forma alongada, gerando hipóteses exóticas sobre sua origem. Já o 2I/Borisov foi mais “convencional”, exibindo gelo de água e dióxido de carbono em proporções típicas. O 3I/ATLAS, portanto, representa um ponto de inflexão: sua composição química, comportamento de polarização e cor verde desafiam os modelos existentes e sinalizam que ainda há muito a aprender sobre a diversidade de material interestelar.
Perguntas Frequentes
Como a "cabeleira" verde do 3I/ATLAS foi detectada?
A equipe da missão SPHEREx capturou imagens espectrais em setembro de 2025 que mostraram fluorescência verde ao redor do cometa. Embora o dicarbono fosse inicialmente suspeito, análises posteriores apontaram o CO₂ excitado pela radiação solar como a principal responsável pela cor.
Por que o 3I/ATLAS pode ser importante para a formação de planetas?
Pesquisadoras como Susanne Pfalzner sugerem que o cometa pode servir como um núcleo sólido já formado, facilitando a captura rápida de gás nos discos protoplanetários. Isso ajudaria a explicar como gigantes gasosos podem crescer antes que o disco se disperse.
Qual a diferença química entre o 3I/ATLAS e os cometas típicos do Sistema Solar?
A principal diferença está na concentração de dióxido de carbono, que no 3I/ATLAS supera em ordem de magnitude as médias encontradas nos cometas de Júpiter. Essa abundância de CO₂ produz a enorme coma verde e indica uma origem em região fria do espaço interestelar.
Quando o 3I/ATLAS será observável novamente?
As atuais previsões orbitais apontam que o cometa permanecerá visível até o final de 2026, com picos de brilho em junho e novembro, período em que telescópios do hemisfério sul terão melhores condições de observação.
Quais instituições estão liderando a pesquisa sobre o 3I/ATLAS?
Além da NASA e da missão SPHEREx, a Associação Paraibana de Astronomia no Brasil, a Universidade Johns Hopkins e institutos europeus como o Instituto de Astrofísica de Copenhagen estão coordenando estudos multidisciplinares.
Raquel Sousa
outubro 5, 2025 AT 06:54Essas cabeleiras verdes são puro hype de marketing científico.
Trevor K
outubro 6, 2025 AT 10:41Concordo, a comunidade científica costuma exagerar quando algo inusitado aparece, mas ainda assim o fenômeno merece atenção detalhada, porque talvez revele processos que ainda desconhecemos, e isso pode abrir novas linhas de investigação.
Miguel Barreto
outubro 7, 2025 AT 14:28É incrível ver como a descoberta do 3I/ATLAS está impulsionando colaboração entre observatórios globais. Cada nova medição nos aproxima de entender melhor a origem desses corpos interestelares. Além disso, a presença abundante de CO₂ pode indicar ambientes frios e ricos em voláteis, o que é fascinante para quem acompanha a astrofísica planetária.
Matteus Slivo
outubro 8, 2025 AT 18:14Ao refletirmos sobre a natureza transitória dos objetos interestelares, percebemos que eles funcionam como mensageiros cósmicos, trazendo informações sobre regiões inexploradas da galáxia. A violenta expulsão desses corpos pode, paradoxalmente, nos oferecer um vislumbre sereno da química primordial.
Anne Karollynne Castro Monteiro
outubro 9, 2025 AT 22:01Não é à toa que a imprensa já está fazendo coroação desse cometa como a "cabeça verde do século", mas eu me pergunto quem realmente lucra com esse alvoroço midiático.
Erico Strond
outubro 11, 2025 AT 01:48Entendo sua preocupação; vamos focar nos dados reais e manter o debate produtivo :) A comunidade tem o dever de separar o sensacionalismo da ciência sólida.
Jéssica Soares
outubro 12, 2025 AT 05:34Olha, se vocês ainda acham que esse cometa é só um "show de luzes", vocês está ignorando décadas de pesquisa que apontam para processos bem mais complexos, então, acorda aí!
Nick Rotoli
outubro 13, 2025 AT 09:21É muito empolgante pensar que esse núcleo verde pode ser a semente que falta para explicar a formação rápida dos gigantes gasosos; manter a esperança viva nos ajuda a persistir nas investigações!
Pedro Washington Almeida Junior
outubro 14, 2025 AT 13:08Talvez seja apenas mais um caso excecional que não muda o panorama geral da formação planetária.
Marko Mello
outubro 15, 2025 AT 16:54Ao analisar o conjunto de observações disponíveis, percebe‑se que o 3I/ATLAS desafia várias premissas estabelecidas na literatura de astroquímica. Primeiro, a extensão da coma de CO₂, que supera em magnitude a maioria dos cometas conhecidos, sugere um reservatório interno de gelo volátil preservado ao longo de bilhões de anos. Segundo, a fluorescência verde observada indica que as interações fotônicas com o dióxido de carbono podem produzir espectros até então inesperados. Terceiro, a polarização negativa detectada aponta para partículas de poeira com morfologias atípicas, possivelmente originadas em ambientes de formação de planetas distantes do Sol. Ademais, a rotação relativamente lenta do núcleo permite que as forças centrífugas não alterem significativamente a distribuição dos voláteis. A presença de CO₂ em abundância pode ainda sinalizar que o cometa se formou em regiões extremamente frias, onde o gelo de água seria menos dominante. Se considerarmos os modelos de acreção rápido, um núcleo pré‑formado como o sugerido poderia servir como “âncora” gravitacional, facilitando a captura de gasosos e acelerando a formação de gigantes como Júpiter. Por outro lado, alguns simuladores apontam que a presença de um núcleo tão rígido pode inibir a migração de materiais finos, alterando o perfil de crescimento das protoplanetes. Outra consideração importante refere‑se à origem galáctica; se o 3I/ATLAS provém de um disco protoplanetário semelhante ao nosso, isso reforça a ideia de que processos análogos são universais. Ainda, a comunidade precisa de medições adicionais de massa e densidade para validar essas hipóteses. Enquanto o James Webb estiver operacional, espectroscopia de alta resolução poderá desvendar a presença de outros voláteis, como metano ou amônia. Finalmente, a colaboração internacional, integrando telescópios terrestres e espaciais, será crucial para montar um panorama completo. Em suma, o 3I/ATLAS pode ser o ponto de inflexão que falta para reconciliar teorias divergentes sobre a formação de planetas gigantes, e seu estudo promete iluminar caminhos antes obscuros da astrofísica moderna.
robson sampaio
outubro 16, 2025 AT 20:41Embora o discurso atual empolgue a comunidade, precisamos considerar que o espectro apresentado ainda sofre de ruído instrumental, e a atribuição de CO₂ como fonte principal da fluorescência verde pode ser uma superestimação baseada em modelos de radiative transfer ainda não calibrados.
Portal WazzStaff
outubro 18, 2025 AT 00:28É verdade que há incertezas, mas a equipe já está trabalhando em correções de baseline e, com os dados adicionais, podemos reduzir esses efeitos e validar as hipóteses atuais.
Anne Princess
outubro 19, 2025 AT 04:14Não dá pra ficar aqui de braços cruzados, gente! Esse “hype” tem que ser desmontado já, antes que mais gente acredite em teoria sem base!!!
Maria Eduarda Broering Andrade
outubro 20, 2025 AT 08:01Embora a reação seja compreensível, é fundamental lembrar que a ciência avança através da experimentação e não pela desmontagem precipitada de ideias.