Cometa 3I/ATLAS exibe cabeleira verde de CO₂ e desafia teorias de formação planetária

O cometa 3I/ATLAS foi identificado em 1º de julho de 2025 como o terceiro visitante interestelar a cruzar o Sistema Solar, e já está provocando um rebuliço entre astrônomos porque possui uma "cabeleira" verde de gás dióxido de carbono que se estende por quase 350 mil quilômetros.
Descoberto pela missão SPHEREx da NASA, o objeto tem núcleo de cerca de 5,6 km de diâmetro, rotação de 16,79 h e uma coma de CO₂ incomparável aos cometas típicos do nosso sistema.
O astrônomo Carey Lisse, astrônomo da Universidade Johns Hopkins, explicou ao Space.com que a intensidade da camada verde é “surpreendente”, enquanto o presidente da Associação Paraibana de Astronomia (Brasil), Marcelo Zurita, destacou a alta concentração de CO₂ como algo fora do padrão.
Contexto histórico: os visitantes interestelares
Desde a descoberta de ʻOumuamua em 2017, o número de corpos vindos de fora do Sol tem sido diminuto. O 2I/Borisov, detectado em 2019, já mostrava traços de gelo comum, mas o 3I/ATLAS traz um perfil químico que lembra mais objetos do cinturão de Kuiper ou até centauros, como ressaltou a equipe de pesquisa.
Na prática, a presença de CO₂ em tal quantidade indica que o núcleo preservou gelo volátil por bilhões de anos, sugerindo uma região de origem fria e rica em compostos orgânicos – possivelmente uma “bolsa” de formação planetária em outra parte da galáxia.
Detalhes das observações: a "cabeleira" verde
As imagens de setembro de 2025 mostraram um halo verde ao redor do cometa, algo geralmente associado ao dicarbono (C₂). No entanto, os espectros obtidos pela SPHEREx revelaram que o C₂ era escasso, apontando para outra molécula em fluorescência – possivelmente CO₂ excitado pela radiação solar.
Além disso, os cientistas detectaram um "ramo de polarização negativa" extremamente profundo e estreito, uma assinatura óptica que nunca havia sido vista em cometas. Essa peculiaridade indica que as partículas de poeira têm formatos e composições diferentes, lembrando os grãos de gelo dos objetos transnetunianos.
- Coma de CO₂: ~350 mil km
- Núcleo: 5,6 km
- Rotação: 16,79 h
- Cor verde: provável fluorescência de CO₂
- Polarização negativa: inédita para cometas
Reações da comunidade científica
O presidente da Associação Paraibana de Astronomia, Marcelo Zurita, afirmou que “sua composição é diferente da maioria dos cometas do Sistema Solar apenas no que diz respeito à concentração de CO₂”.
Já as pesquisadoras Susanne Pfalzner e Michele Bannister, ambas afiliadas ao Instituto de Astrofísica de Copenhagen, levantaram a hipótese de que o 3I/ATLAS poderia ser uma “semente formadora de planetas”, proporcionando um núcleo sólido capaz de acelerar a acreção de gás em discos protoplanetários.
Essa teoria gerou debates acalorados nos simpósios de astroquímica e dinâmica planetária, com alguns pesquisadores pedindo cautela até que novas medições de massa e densidade estejam disponíveis.

Implicações para a formação de planetas
Se o cometa realmente representa um núcleo pré‑formado, ele poderia solucionar um dos maiores enigmas da astronomia: como planetas gigantes, como Júpiter e Saturno, alcançaram massas críticas antes da dispersão do disco de gás. Um núcleo sólido externo poderia servir como “âncora” gravitacional, atraindo e retendo material gasoso mais rapidamente.
Além disso, a origem do 3I/ATLAS – possivelmente uma região da galáxia com estrelas semelhantes ao Sol – abre caminho para comparações entre processos de formação planetária locais e interestelares. Isso pode indicar que a mesma arquitetura química que deu origem ao nosso próprio Sistema Solar pode estar espalhada por toda a Via Láctea.
Próximos passos e observações futuras
O cometa permanecerá visível ao longo de 2026, permitindo que telescópios terrestres e espaciais, como o James Webb Space Telescope, realizem espectroscopia de alta resolução. A comunidade espera confirmar a presença de outros voláteis, medir a massa exata e mapear a distribuição de partículas de poeira.
Em paralelo, a Conferência Internacional de Astronomia InterstellarBerlim já incluiu um painel exclusivo sobre o 3I/ATLAS, reunindo especialistas de Estados Unidos, Brasil e da Europa.
Até lá, os astrônomos continuam coletando dados de observatórios amadores na América do Sul, onde a visibilidade do cometa é favorável durante a primavera austral.
Background: como surgiram os visitantes interestelares?
Objetos como 3I/ATLAS são ejetados de seus sistemas natais após interações gravitacionais com planetas gigantes ou estrelas próximas. Estudos recentes sugerem que até 10% das estrelas podem expulsar pequenos corpos a cada 100 milhões de anos, mas poucos desses cruzam a órbita da Terra.
A primeira detecção, ʻOumuamua, mostrou traços de metal e uma forma alongada, gerando hipóteses exóticas sobre sua origem. Já o 2I/Borisov foi mais “convencional”, exibindo gelo de água e dióxido de carbono em proporções típicas. O 3I/ATLAS, portanto, representa um ponto de inflexão: sua composição química, comportamento de polarização e cor verde desafiam os modelos existentes e sinalizam que ainda há muito a aprender sobre a diversidade de material interestelar.

Perguntas Frequentes
Como a "cabeleira" verde do 3I/ATLAS foi detectada?
A equipe da missão SPHEREx capturou imagens espectrais em setembro de 2025 que mostraram fluorescência verde ao redor do cometa. Embora o dicarbono fosse inicialmente suspeito, análises posteriores apontaram o CO₂ excitado pela radiação solar como a principal responsável pela cor.
Por que o 3I/ATLAS pode ser importante para a formação de planetas?
Pesquisadoras como Susanne Pfalzner sugerem que o cometa pode servir como um núcleo sólido já formado, facilitando a captura rápida de gás nos discos protoplanetários. Isso ajudaria a explicar como gigantes gasosos podem crescer antes que o disco se disperse.
Qual a diferença química entre o 3I/ATLAS e os cometas típicos do Sistema Solar?
A principal diferença está na concentração de dióxido de carbono, que no 3I/ATLAS supera em ordem de magnitude as médias encontradas nos cometas de Júpiter. Essa abundância de CO₂ produz a enorme coma verde e indica uma origem em região fria do espaço interestelar.
Quando o 3I/ATLAS será observável novamente?
As atuais previsões orbitais apontam que o cometa permanecerá visível até o final de 2026, com picos de brilho em junho e novembro, período em que telescópios do hemisfério sul terão melhores condições de observação.
Quais instituições estão liderando a pesquisa sobre o 3I/ATLAS?
Além da NASA e da missão SPHEREx, a Associação Paraibana de Astronomia no Brasil, a Universidade Johns Hopkins e institutos europeus como o Instituto de Astrofísica de Copenhagen estão coordenando estudos multidisciplinares.
Raquel Sousa
outubro 5, 2025 AT 06:54Essas cabeleiras verdes são puro hype de marketing científico.