CPMI do INSS aprova prisão preventiva de Nelson Wilians em esquema de R$ 6 bilhões

Contexto da investigação
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) que analisa o escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aprovou nesta quinta‑feira, 25 de setembro de 2025, o pedido de prisão preventiva contra o advogado Nelson Wilians Fratoni Rodrigues. A medida surge após meses de coleta de provas pela Polícia Federal, que identificou movimentações financeiras suspeitas totalizando R$ 4,3 bilhões por meio do escritório de advocacia de Wilians entre 2019 e 2023.
O esquema de fraudes, que já ultrapassa a marca de R$ 6 bilhões, consistia em descontos indevidos nas aposentadorias e pensões de milhares de beneficiários. De acordo com o relatório da CPMI, esses descontos eram realizados por meio de empresas de fachada controladas por um grupo de empresários ligados ao setor de saúde e medicamentos, entre eles Antônio Carlos Camilo Antunes – conhecido como “Careca do INSS” – e Maurício Camisotti.
Em 12 de setembro, a Polícia Federal realizou um complexo operação de busca e apreensão no escritório de Wilians, simultaneamente à prisão de Antunes e Camisotti. Entre os bens confiscados estavam dinheiro em espécie, relógios de luxo, móveis de alto padrão, obras de arte, esculturas, armas de fogo e veículos de alto valor, como um Ferrari F8 avaliado em mais de R$ 4 milhões e uma réplica da McLaren MP4/8, modelo que Ayrton Senna utilizou na Fórmula 1 em 1993.
- Ferrari F8 – valor aproximado: R$ 4 milhões
- Réplica da McLaren MP4/8 – valor estimado: R$ 200 mil
- Relógios de marcas suíças – valor total: R$ 1,2 milhão
- Obras de arte e esculturas – valor total: R$ 800 mil
- Armas de fogo e munições – valor total: R$ 150 mil
Essas apreensões reforçaram a suspeita de que Wilians teria atuado como facilitador na lavagem dos recursos obtidos por meio dos descontos ilícitos, inserindo o dinheiro sujo em um circuito de bens de alto valor que dificultam o rastreamento pelas autoridades.

Desdobramentos da prisão preventiva
No dia 18 de setembro, Wilians compareceu à CPMI para prestar depoimento. Ele chegou portando um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Nunes Marques, que garantia o direito ao silêncio e a não produção de provas contra ele. Durante o interrogatório, o advogado recusou‑se a prestar juramento e respondeu apenas a poucas perguntas, mantendo a tese de que não tinha ligação com os fatos investigados.
Apesar da postura de silêncio, Wilians reconheceu ter mantido vínculo profissional com Maurício Camisotti desde 2015, relacionamento que, segundo ele, evoluiu para amizade. No entanto, o advogado negou conhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, e classificou os crimes contra os aposentados como “horrendos”.
A decisão da CPMI de autorizar a prisão preventiva marca a primeira vez que o órgão impõe medida coercitiva contra um dos indicados, ao passo que o pedido anterior da Polícia Federal havia sido negado pelo STF. A justificativa apresentada pela comissão aponta risco de fuga, possibilidade de manipulação de provas e a necessidade de garantir a efetividade das investigações.
Especialistas em direito penal afirmam que a prisão preventiva, embora rara, pode ser mantida se houver indícios fortes de participação em organização criminosa e risco de obstrução da justiça. No caso, as evidências de movimentações financeiras suspeitas, a apreensão de bens de luxo e a proximidade com outros investigados aumentam a probabilidade de que o juiz confirme a medida por tempo indeterminado.
O escândalo já provocou debates intensos no Congresso sobre a necessidade de reforçar os mecanismos de controle sobre o INSS. Deputados de diferentes siglas exigem reformas na gestão dos benefícios, maior transparência nas concessões de descontos e a criação de um órgão de auditoria independente capaz de detectar fraudes antes que se tornem milionárias.
Enquanto isso, os beneficiários do INSS que tiveram seus pagamentos reduzidos passam por um processo de reavaliação. O Ministério da Previdência Social já anunciou a abertura de um canal especial para que aposentados e pensionistas apresentem reclamações e solicitem a revisão de valores que considerem indevidos.
O desfecho do caso ainda depende de decisões judiciais sobre a permanência da prisão preventiva, bem como da continuação das investigações da Polícia Federal, que pretende aprofundar o rastreamento dos recursos desviados e identificar outros possíveis envolvidos na rede de corrupção.