Fernanda Torres e a Complexidade do Papel em 'Ainda Estou Aqui'

Fernanda Torres e o Desafio de Viver Eunice Paiva
Fernanda Torres é uma atriz calejada, com uma carreira marcada por papéis que exigem não apenas técnica, mas também uma imensa entrega emocional. Em seu mais recente trabalho, "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, ela se depara com a complexa missão de interpretar Eunice Paiva, uma personagem que vive a devastação pessoal durante um dos períodos mais sombrios da história recente do Brasil: a ditadura militar. Baseado nas memórias de Marcelo Rubens Paiva, o filme nos leva a pensar sobre as questões da resiliência, do amadurecimento e da necessidade de enfrentar a realidade, por mais dura que esta seja.
O desaparecimento de Rubens Paiva, o marido de Eunice e um político importante, pelas mãos dos agentes do regime, não é apenas um evento perturbador na vida de Eunice, mas também um catalisador para mudanças radicais em sua vida e na de sua família. Fernanda Torres comenta sobre o quanto foi desafiador e, ao mesmo tempo, enriquecedor, dar vida a uma mulher tão forte e, ainda assim, cheia de pequenas delicadezas. "É um papel que pede sutileza e força em igual medida", diz a atriz, que se esmera em captar todos os matizes de uma personagem inspirada em fatos reais.
O Impacto do Filme no Público e Críticas Positivas
"Ainda Estou Aqui" tem percorrido uma trajetória de sucesso em diversos festivais internacionais, incluindo Veneza, Toronto, San Sebastián, Nova Iorque, Londres e o Festival Internacional de Cinema de São Paulo. Em cada uma dessas paradas, a reação do público e da crítica foi amplamente positiva, destacando não apenas a direção sensível de Walter Salles, mas também as atuações memoráveis do elenco, particularmente as de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Para Torres, a receptividade calorosa é uma prova de que o cinema brasileiro tem qualidade narrativa e estética para dialogar com o mundo.
Ela acredita que o filme possui chances reais de reconhecimento além das fronteiras nacionais, inclusive em premiações como o Oscar. "É gratificante ver uma produção nossa conquistando espaço e interesse internacionais", afirma com orgulho. A atriz destaca ainda a importância de filmes como este, que trazem à tona histórias que merecem ser contadas, não apenas pela sua relevância histórica, mas também pelo seu poder de ecoar questões universais que continuam ressoando, como a luta por democracia e justiça.
Paralelos com Questões Sociais e Culturais Atuais
Fernanda Torres também reflete sobre como o tema do filme se conecta com questões sociais contemporâneas. No Brasil e mundo afora, o embate entre o poder autoritário e os direitos individuais é um ponto de tensão constante, algo que o filme aborda de forma contundente. "Ainda Estou Aqui" não é apenas uma janela para o passado, mas um espelho que nos faz refletir sobre o presente e o que podemos e devemos aprender com a história para não cometê-los novamente.
A atriz também faz menção à relevância que o filme pode ter para o público jovem, muitos dos quais estão descobrindo o legado desses eventos apenas agora. Através da narrativa de Eunice Paiva, o filme oferece a oportunidade de conectar as gerações, inspirando um diálogo aberto sobre memória, justiça e o papel de cada indivíduo na construção de uma sociedade mais igualitária e justa.

Uma Produção que Enaltece o Talento Brasileiro
Durante a entrevista, Fernanda diz nunca ter perdido a admiração por Walter Salles, de quem já era fã antes mesmo de trabalhar juntos. Ela lembra como cada cena dirigida por Salles é uma aula de paciência, precisão e amor pelo cinema. "Ele é um diretor que sabe extrair o melhor de cada ator porque acredita no poder da história que está contando", comenta ela, admirada. Esta parceria se torna ainda mais especial com a presença de Fernanda Montenegro, uma das atrizes mais respeitadas do Brasil, trazendo rigor e paixão ao seu ofício.
Por fim, Fernanda Torres compartilha memórias pessoais que tornam o filme ainda mais significativo para ela. Tendo crescido num ambiente similar ao retratado na obra, ela sente uma conexão íntima com a história e os personagens. É um retorno a um passado familiar e, ao mesmo tempo, uma conversa com o futuro, através dos olhos daqueles que talvez vejam pela primeira vez a força de um cinema que conta histórias do coração.