William Bonner se despede do Jornal Nacional após 29 anos; César Tralli assume a bancada
nov, 1 2025
William Bonner pronunciou seu último "boa noite" no Jornal Nacional às 20h30 de sexta-feira, 31 de outubro de 2025, encerrando uma era de 29 anos ininterruptos na bancada do principal telejornal do Brasil. Sentado ao lado de Renata Vasconcellos e recebendo o novo parceiro, César Tralli, o jornalista de 61 anos não fez discurso dramático — apenas uma despedida serena, quase íntima, como se estivesse agradecendo um amigo por ter esperado o momento certo. E foi isso: não houve lágrimas em câmera, nem música épica. Só um silêncio coletivo, no Projac, no Rio de Janeiro, onde mais de 150 funcionários se levantaram para aplaudir. A transição foi planejada. E isso fez toda a diferença.
Uma despedida que foi planejada há cinco anos
A decisão de William Bonner de deixar o Jornal Nacional não foi um impulso. Começou em 2020, quando ele começou a falar, em entrevistas discretas, sobre o cansaço da rotina diária. "Se eu me dedicar não mais ao trabalho factual e sim às reportagens sobre atualidades, a vida fica mais suave", disse ele na última edição. O que parecia um desejo pessoal virou um projeto de sucessão. A Rede Globo não esperou o último minuto. Reuniões semanais começaram no início de 2025, com diretores de jornalismo, produtores e até o time de RH envolvidos. O objetivo? Garantir que o público não sentisse a ausência — e que o novo apresentador não fosse apenas um substituto, mas um herdeiro.César Tralli: o novo rosto de uma instituição
César Augusto Tralli, de 54 anos, não é um nome novo para os telespectadores. Apresentou o Jornal da Globo por anos, fez reportagens de guerra, cobriu eleições e até foi repórter no exterior. Mas nunca havia assumido a bancada principal. Sua estreia, marcada para 3 de novembro de 2025, ao lado de Renata Vasconcellos, é um sinal claro: a Rede Globo quer estabilidade, não revolução. "Tô sereno e tranquilo porque a gente falou sobre a vida, o passado, o presente e o futuro", disse Tralli na despedida de Bonner. Ele não tentou imitar o estilo do antecessor. Nem tentou ser carismático como Bonner. Ele simplesmente foi ele — calmo, preciso, com um sorriso que parece dizer: "Estou aqui para ouvir, não para brilhar".William Bonner: de jornalista diário a autor de histórias
Agora, Bonner vai para o Globo Repórter, o programa documental que já foi um marco da TV brasileira. Ele assumirá a apresentação ao lado de Sandra de Sá Annenberg a partir de março de 2026. É um retorno às raízes: antes de ser editor-chefe, ele foi redator publicitário, locutor de rádio e repórter de campo. O jornalismo de investigação, com tempo para aprofundar, para ouvir, para respirar — isso é o que ele quer agora. "Hoje é meu último dia. Chegou o momento de receber o seu novo parceiro, Renata", disse, olhando para ela. Não foi uma despedida. Foi um passo. Um gesto de confiança.
Uma família que sempre esteve por trás da câmera
Por trás da imagem pública, Bonner tem uma vida que muitos só conhecem por fragmentos. Casado desde 2018 com Natasha Dantas, fisioterapeuta especializada em oncologia, ele tem três filhos adultos — Vinícius, Beatriz e Laura, trigêmeos de 28 anos — frutos de seu primeiro casamento com Fátima Maria Bernardes Gomes, com quem esteve casado por 26 anos. Ele já disse, em raras ocasiões, que a maior recompensa da vida não está nos prêmios, mas nos almoços de domingo em casa. "A gente não pode viver só de jornalismo. A gente precisa viver de vida", comentou em 2023, durante um encontro com jornalistas da ECA-USP. A decisão de sair do Jornal Nacional foi, antes de tudo, uma escolha de prioridades.O legado que ficou
Bonner superou Cid Moreira, que apresentou o Jornal Nacional por 23 anos. Mas seu legado não é só de tempo. É de credibilidade. Em tempos de desinformação, ele foi um ponto de referência. Nunca gritou. Nunca exagerou. Nunca se escondeu atrás de clichês. Quando o Brasil mergulhou em crises políticas, econômicas e sanitárias, Bonner foi o rosto que manteve a calma. E o público confiou. Por isso, sua saída não é só um evento de TV — é um momento histórico. O telejornal mais visto do país passa por uma transição sem precedentes: sem trauma, sem polêmica, sem substituição forçada.
Como será o futuro do Jornal Nacional?
Agora, a pergunta que todos fazem: o que muda? A resposta é: nada, e tudo. A estrutura da redação permanece. Os editores, os produtores, os repórteres — todos continuam. Mas o tom, o ritmo, o olhar? Isso pode mudar. César Tralli não é Bonner. E não precisa ser. O que a Rede Globo quer agora é um jornalismo que não se prenda a uma única figura, mas a uma instituição. A audiência, que já supera 10 milhões de espectadores diários, não vai desaparecer. Mas vai observar. E esperar. Porque, quando você cresce com alguém na TV, você sente quando ele vai embora.Frequently Asked Questions
Por que William Bonner decidiu sair do Jornal Nacional agora?
Bonner planejou a saída desde 2020, buscando reduzir a carga de trabalho diário para dedicar mais tempo à família e ao jornalismo de profundidade. Ele queria deixar a rotina intensa do telejornal para assumir o Globo Repórter, um programa semanal que permite maior liberdade criativa e menos pressão de horário.
Quem é César Tralli e por que ele foi escolhido?
César Tralli é jornalista com mais de 30 anos de experiência na Rede Globo, já apresentou o Jornal da Globo e cobriu grandes eventos nacionais e internacionais. Foi escolhido por sua serenidade, precisão e familiaridade com o formato do jornal, sem precisar reinventar o que já funciona. Sua parceria com Renata Vasconcellos é vista como equilibrada e natural.
Como a Rede Globo garantiu uma transição tranquila?
A emissora iniciou reuniões de planejamento no início de 2025, envolvendo diretores de jornalismo, produtores e até o time de RH. Treinamentos, ensaios e até a preparação emocional de Tralli foram feitos com antecedência. A transmissão de despedida foi cuidadosamente estruturada para homenagear Bonner sem dramatizar — mantendo o foco no jornalismo, não no espetáculo.
O que mudará no Jornal Nacional com a nova bancada?
O conteúdo e a estrutura editorial permanecem os mesmos. Mas o estilo pode ganhar mais calma e menos intensidade. Tralli não busca ser carismático como Bonner — ele busca ser confiável. A mudança é sutil: menos emoção, mais clareza. Isso pode atrair novos públicos, especialmente mais jovens que valorizam serenidade em tempos de caos informativo.
William Bonner vai continuar na TV?
Sim. A partir de março de 2026, ele assumirá a apresentação do Globo Repórter ao lado de Sandra de Sá Annenberg. O programa semanal de documentários e investigações é o ambiente ideal para seu novo estilo: mais lento, mais profundo, mais humano. Ele não se aposentou — apenas mudou de formato.
Qual é o impacto dessa mudança para o jornalismo brasileiro?
A saída de Bonner marca o fim da era do jornalista-ícone. Agora, o jornalismo brasileiro se move para um modelo mais coletivo, menos dependente de uma única figura. Isso pode ser saudável: fortalece a instituição, reduz o risco de crise de identidade e prepara o terreno para novas gerações. A transição foi um exemplo raro de elegância em um meio tão competitivo.
gustavo oliveira
novembro 2, 2025 AT 08:43Essa despedida foi um dos momentos mais bonitos da TV brasileira. Nenhum discurso, nenhuma música, só aquele silêncio que falou mais que mil palavras. Bonner sempre foi assim: ele não precisava gritar pra ser ouvido.
Parabéns, Globo, por fazer isso direito por uma vez.